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Doença de Huntington ou Doença de São Guido

O que é Doença de Huntington

Também conhecida como Coreia ou Dança de São Guido.

Este sintoma, substancialmente mais raro em comparação com o mal de Parkinson, pertence às síndromes extrapiramidais com excesso de movimentação.

Tal qual uma espada de Dâmocles, ele paira como um destino sobre o afetado desde o nascimento, manifestando-se, entretanto, entre o 30º e o 50º ano de vida.

Herdada de maneira autos somática-dominante, qualquer criança que tenha um dos pais afetado será surpreendida pelo mesmo destino. Durante um estado de dormência geral da musculatura, surgem repentinamente movimentos bruscos e na maioria das vezes assimétricos, sobretudo nos membros e nos músculos da face. Dai o nome (do grego choreia = dança).

Soma-se a isso uma perda progressiva das capacidades conscientes, chegando até a demência. Labilidade emocional e perturbações espirituais são frequentes.

É provável que bioquimicamente, assim como no mal de Parkinson, a razão básica seja uma perturbação no intercâmbio de neurotransmissores, aquelas substâncias que transmitem mensagens entre as terminações nervosas.

Quais são os sintomas da Doença de Huntington?

O sintoma adquire sua especificidade devido à implacabilidade de seu surgimento na segunda metade da vida e o longo tempo (de deliberação) que concede a suas vítimas.

É como se ele quisesse ensinar-lhes a aceitar a inevitabilidade do destino e a aproveitar o tempo concedido.

O futuro ameaçador aumenta a pressão para que se desfrute o momento e se viva no aqui e agora. Não é raro que esse sintoma leve por caminhos frutíferos justamente devido à sua terrível implacabilidade.

Afinal, os afetados não têm nenhuma possibilidade de evitar o “Seja feita a Sua vontade” do pai-nosso. Eles nasceram com essa tarefa e ficam sabendo disso o mais tardar quando o pai ou a mãe adoece. Isso leva muitas vezes a um questionamento precoce quanto ao sentido da vida e a ocupar-se com a temática da religião.

A possibilidade de encontrar felicidade no mundo material é colocada em questão desde o princípio. A ligação do homem com sua origem e a relação com a unidade além do mundo dos opostos podem surgir precocemente no campo de visão.

As duas perguntas centrais, “De onde venho?” e “Para onde vou?” impõem-se mais cedo do que é usual e, com elas, a tarefa de aprendizado é evidentemente, e sobretudo, o tema “destino”, colocado no berço do afetado.

Quando a ameaça fatal não é aceita, resta somente a fuga desesperada diante da própria determinação. Isso pode levar a uma incrível sede de viver e à tentativa de vivenciar o máximo possível o mais rapidamente possível. Mas até mesmo com isso se aprende, no sentido da tarefa, como será demonstrado.

Nesse caso, a própria juventude significa tudo e os afetados tornam-se uma franca caricatura desta sociedade, que sente de maneira similar.

O zangar-se com o duro destino também está próximo, e sobretudo a projeção da culpa nos pais. A acusação de que teria sido melhor eles não terem posto nenhuma criança no mundo é uma das mais brandas e corresponde, ao mesmo tempo, à recomendação da medicina.

A projeção da culpa é a variante não resgatas ia da ocupação com a problemática da herança familiar. Nesse caso, a tarefa “transmitida” e da qual a pessoa se encarrega involuntariamente toma-se evidente.

Tanto a genética como experiências da psicoterapia mostram o quanto somos os filhos de nossos pais. Ainda podemos recusar a herança legal, mas a herança genética e a anímica permanecem conosco em todos os casos.

Aqui emerge a pesada herança dos pais e a maldição hereditária dos antigos, entrando no jogo até mesmo o carma familiar dos hindus.

Nós, modernos, gostaríamos tanto de ser novos e independentes neste mundo. E preciso então que um sintoma como a coreia infunda um terror desmesurado, comprovando dura e claramente que seu contrário é verdadeiro.

Antigamente também havia substitutos, já que os afetados eram considerados amaldiçoados ou possuídos. O médico George S. Huntington, de Nova York, teria decidido pesquisar o sintoma quando uma mãe e sua filha, sofrendo um ataque em público, foram xingadas por alguns transeuntes como se fossem diabos.

O desejo compreensível de, com tal destino, colocar toda a energia na juventude e apagar o tempo que começa na metade da vida corresponde não somente à valoração das fases da vida feita por nossa cultura, mas é também a expressão não redimida de um padrão vital comum às religiões e a muitas culturas: a saída para o mundo e, a partir do meio da vida, a volta, o retorno para o próprio meio.

Nesse sentido pode-se interpretar também a demência que começa com o surgimento dos sintomas e aumenta constantemente. O cérebro, em seu papel de comando central, vai lentamente abdicando de suas funções até abandonar o poder.

Os pacientes desistem de toda e qualquer responsabilidade e mergulham cada vez mais na apatia até que o contato cota o mundo se rompe totalmente.

Através da sintomática corporal não-redimida, que corresponde a uma fuga total da responsabilidade, aparece seu lado, redimi-lo, ou seja, a tarefa de mudar de orientação e dirigir-se para dentro após a metade da vida.

Pode-se reconhecer nessa retirada do interesse pelo ambiente o princípio budista da indiferença, Upekkha, tão valorizada no Oriente para o caminho do desenvolvimento.

Tendo em conta a inevitabilidade do destino que recai sobre os pacientes, seria sem dúvida benéfico ater-se a essas possibilidades redimidas desde antes do surgimento da sintomática.

O sintoma mais espetacular, os movimentos involuntários semelhantes a uma dança, equivalem a descargas espontâneas de energia represada.

Os afetados sofrem de uma drástica falta de tensão até que um surto de movimentos compensa de maneira exagerada o que não foi feito.

Eles, no sentido mais verdadeiro da palavra, executam uma dança. Impõe-se a pergunta “O que deu em você?”

A voz popular explica todos os casos de pacientes que vivem um surto como uma espécie de possessão.

De qualquer maneira, uma grande porção de energia mergulhou nas sombras, abre um caminho espetacular no surto e, com isso, coloca o paciente automaticamente no ponto central.

Ao mesmo tempo, descarrega-se a energia de uma dança explosiva. Em última instância, uma dança é uma transposição de energia e a correspondente ação manifesta em forma ritual.

Os movimentos característicos de mãos e pés, especialmente, lembram posturas simbólicas tais como os mudras do sistema da yoga.

No contexto da predeterminação dos acontecimentos, amplamente difundida também entre os ocidentais, surge a suspeita de que aqui foram trazidas para a vida tarefas que precisam ser vividas.

Evidentemente, os afetados têm unicamente a opção de quanta consciência eles irão ao encontro do tema proposto. Possivelmente, em um caso isolado, não se trata apenas de relíquias de sequências de dança ritual que podem ser executadas sem a consciência do eu e sem expectativas, pois é exatamente isso o que os pacientes fazem.

Evidentemente exige-se que eles coloquem sua energia à disposição para essas danças rituais. Como, entretanto, eles não têm nem consciência, nem compreensão da profundidade desse acontecimento, os padrões não alcançam mais seu grau de efetividade original e repetem-se a intervalos sem obter um alívio realmente duradouro.

A impossibilidade de impedi-los mostra o quanto eles são importantes apesar disso.

Em lugar de impedir e conter essas explosões de movimento, o objetivo autenticamente terapêutico deve ser animar os pacientes a ir de livre e espontânea vontade até os extremos da tensão e do relaxamento, entregar-se inteiramente a danças extáticas e a possibilidades profundas de regeneração, a contorcer-se e a consolar-se para dançar todas as contorções e consolações de sua alma, a fazer caretas para a vida e a deixar-se ir, enfim, a ceder ao torvelinho e ao ímpeto do próprio mundo interno.

Há um modelo ritual entre os índios norte-americanos, o costume de dançar acordado o próprio sonho.

A história do cantor de canções de protesto norte-americano Woodie Guthrie e seu filho Arlo mostra como a rebelião inflamada e a devoção estão próximas em tal destino. Woodie cantava sua canção mais famosa, “This Iand is your land” , para sublevar os famintos camponeses californianos.

Sua vida foi um único protesto contra a América estabelecida de seu tempo. Antes ainda de morrer de Chorea Huntington, seu filho Arlo assumiu a tradição do pai e tornou-se uma figura de culto na luta da juventude americana contra a guerra do Vietnã, pela autodeterminação e pela liberação das drogas que expandem a consciência.

Mais tarde, Arlo Guthrie, de cantor de protesto engajado, transformou-se em engajado pesquisador do caminho para a autorrealização.

Responda das seguintes Perguntas

  1. Onde eu deixo a energia fluir? Onde eu tendo ao estancamento e à descarga explosiva?
  2. Em que ponto tendo a executar uma dança que não tem nenhuma relação com a situação?
  3. Em que medida encontro o meio-termo entre o repouso e a atividade?
  4. Que papel desempenha a questão do sentido em minha vida?
  5. Estou preparado para assumir a responsabilidade pelo meu destino?
  6. Qual é minha relação com as fases da vida, juventude e velhice?
  7. Que “carga hereditária” devo liberar do ponto de vista anímico?
  8. Quão consciente é minha relação com os rituais? Em que medida minha vida é um ritual?

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